sábado, 22 de maio de 2010

Um mundo

Pedaços se partem, pedaços se quebram. Alma nua prevalece, despida da sua armadura.

Porque te despem de tal modo, esfomeado? Maldita deusa que te tocou e amaldiçoou por talvez inveja sem motivo.

Pedaços estilhaçados caiem no chão. Dizem que és pura, que és perfeita, mas será realmente verdade? Pois por cada paixão, mais morres neste mundo, onde vieste cair erradamente. Pois o mundo para ti devia de ser calmo e pacifico, sem violência nem brusquidão.

Pequenina és, e pura dizem ser. Também será verdade? Mas não há duvida o quão frágil és.

Porque te despem assim, para depois abandonarem-te ao frio? Tuas asas se quebram, de tanto frio e de congelarem. Tanta fragilidade jamais deveria ser danificada.

Voa então, voa para longe! Sê livre! Liberta o coração! Liberta a tua alma. Não deixes que o Amor te aprisione, sê unicamente tu.

Pequena fadinha, nascida de uma flor e caída do céu não chores mais, porque assim as tuas lágrimas inundaram o teu mundo e afogar-te-ás!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A pequena fada-anjo

- Maldita, infinitamente malditas, porque não me deixaste em paz?  - Acordei eu, com um grito.

Todo o meu corpo doía-me, dormente da queda interminável. Miraculosamente eu sobrevivera.

Com dificuldade tentava elevar-me, apoiando as minhas mãos e joelhos naquele fundo gélido e escorregadio: gelo.

- Tentas arrancar-me da escuridão, mas esquece, eu não sou o teu destino! Não sou parte de ti e deves aceita-lo e viver a tua vida e deixar-me apodrecer em paz pois é isso que almejo! - Gritou ainda mais alto, caminhando na minha direcção para me erguer pelos ombros. Mas eu não tinha medo, mas o agitar enquanto gritava assustava-me e magoava-me.

- Mas... - Murmurei eu.

- Desiste! Voa, sê livre! Não é teu dever ajudar-me. A tua pureza e ingenuidade impedem-te de entender, mas é assim mesmo! - Gritou ainda mais, um grito que encoava nos meus ouvidos e picava horrivelmente os meus ouvidos.

Largou-me, deixando-me cair estatelada no chão. O gelo entretanto tornara-se num espelho. E vi, sangue e mais sangue todo ele meu. As minhas asas tinham-se rompido e partido com a queda. Jamais nasceriam por aquela loucura que tivera em querer salvá-lo, cometera um grande erro. E como iria voar assim?

- dar-te-ei de volta as tuas asas, em troca do que fizeste para que eu não me magoasse. Mas é para te ires embora, senão abandonar-te-ei no labirinto do submundo, onde estamos nós e entregue as almas penadas que devoraram a tua alma pura. - Avisou-me, para depois segurar na minha mão e ajudar-me a reerguer-me.

Os meus olhos se fecharam, um quente calor aconchegava o meu coração, não havia medo. Vi tudo: uma rapariga a sorrir tonta de alegria beijando apaixonadamente um jovem, era eu. Afinal eu tinha futuro e não iria acabar sozinha.

Subitamente, como se rasgassem as minhas cortas, e puxassem as minhas veias e artérias para fora do meu corpo. Gritei, agonizei de dor. Era insuportável, doía horrivelmente, especialmente depois de ter visto que o que tinha sobrado das minhas asas rasgadas, tinham sido expulsas pelo meu corpo. E senti novas crescerem, mas a dor permanecia cada vez maior, quanto custaria renascer cem vezes?

Até que parou, e movi estas novas asas como novos membros do meu corpo. não eram iguais às anteriores, mas muito mais belas e delicadas, carregadas de novas esperanças.

Mas algo estranho se passava, ouvi uivos e grunhidos, as almas penadas haviam chegado. Porém, a tempo que as minhas asas se moveram erguendo os meus pés do chão, por pouco não tinha ficado sem um pé. E vi, vi-o pela última vexz, rodeado por aquela maldição, que saltou sobre ele e apenas vi sangue salpicar, tapando os olhos.

Novos sonhos surgiriam, novos objectos, esperanças e futuro. Iria esquecer esta carnificina pois era essa a minha vontade. Esquecer para não me apegar ao passado, para não pensar, para viver o futuro e para sorrir.


[Por aqui fica a sua história, que talvez um dia virá a ser retomada, daquela que anjo caído foi, e reerguido se tornou, porque na vida a alegria é que conta e o sorrir de uma doce criança que aquece nossos dias. "As estrelas caiem, o mundo desaba. Mas, misteriosamente não sinto medo,  apenas porque tu estas comigo"]

«Os contentores voadores»

Noite alta. Ouvia-se carros a passar na estrada. Mais acima, um conjunto de contentores. Uma campainha soava, monótona e, logo após, uma pequena multidão iniciava o regresso a casa.

Silêncio... E pum! Um contentor deslizava, primeiro até ao chão e, depois, elevava-se pelos ares, flutuando como um balão de Hélio. E outro se lhe seguiu, e outro, e mais um, até nenhum sobrar assente no chão, num bailado de pesada elegância. Como era possível? Um deles, por pouco que não veio contra mim.

Puxei pela máquina fotográfica. Tinha desaparecido. E que fiz eu? Peguei no meu querido Diário Gráfico. Também sumiu, voando. E, sucessivamente, todos os meus objectos voaram.

Corri para chamar alguém, que comigo pudesse testemunhar tão insólito fenómeno voador. Nada, ninguém. Acabei por adormecer, cansada do longo dia, no fresco relvado «arroiano», entretanto erguido, «embalada» pelos contentores voadores.

De manhã, certamente, retomariam os seus lugares.

                                          Alice Atum [pseudónimo]
                                [revisão e correcção do querido, maluco
                                    e fantástico professor de português:
                                            Pf. º Dionísio Fernandes]