segunda-feira, 10 de maio de 2010

A pequena fada-anjo

- Maldita, infinitamente malditas, porque não me deixaste em paz?  - Acordei eu, com um grito.

Todo o meu corpo doía-me, dormente da queda interminável. Miraculosamente eu sobrevivera.

Com dificuldade tentava elevar-me, apoiando as minhas mãos e joelhos naquele fundo gélido e escorregadio: gelo.

- Tentas arrancar-me da escuridão, mas esquece, eu não sou o teu destino! Não sou parte de ti e deves aceita-lo e viver a tua vida e deixar-me apodrecer em paz pois é isso que almejo! - Gritou ainda mais alto, caminhando na minha direcção para me erguer pelos ombros. Mas eu não tinha medo, mas o agitar enquanto gritava assustava-me e magoava-me.

- Mas... - Murmurei eu.

- Desiste! Voa, sê livre! Não é teu dever ajudar-me. A tua pureza e ingenuidade impedem-te de entender, mas é assim mesmo! - Gritou ainda mais, um grito que encoava nos meus ouvidos e picava horrivelmente os meus ouvidos.

Largou-me, deixando-me cair estatelada no chão. O gelo entretanto tornara-se num espelho. E vi, sangue e mais sangue todo ele meu. As minhas asas tinham-se rompido e partido com a queda. Jamais nasceriam por aquela loucura que tivera em querer salvá-lo, cometera um grande erro. E como iria voar assim?

- dar-te-ei de volta as tuas asas, em troca do que fizeste para que eu não me magoasse. Mas é para te ires embora, senão abandonar-te-ei no labirinto do submundo, onde estamos nós e entregue as almas penadas que devoraram a tua alma pura. - Avisou-me, para depois segurar na minha mão e ajudar-me a reerguer-me.

Os meus olhos se fecharam, um quente calor aconchegava o meu coração, não havia medo. Vi tudo: uma rapariga a sorrir tonta de alegria beijando apaixonadamente um jovem, era eu. Afinal eu tinha futuro e não iria acabar sozinha.

Subitamente, como se rasgassem as minhas cortas, e puxassem as minhas veias e artérias para fora do meu corpo. Gritei, agonizei de dor. Era insuportável, doía horrivelmente, especialmente depois de ter visto que o que tinha sobrado das minhas asas rasgadas, tinham sido expulsas pelo meu corpo. E senti novas crescerem, mas a dor permanecia cada vez maior, quanto custaria renascer cem vezes?

Até que parou, e movi estas novas asas como novos membros do meu corpo. não eram iguais às anteriores, mas muito mais belas e delicadas, carregadas de novas esperanças.

Mas algo estranho se passava, ouvi uivos e grunhidos, as almas penadas haviam chegado. Porém, a tempo que as minhas asas se moveram erguendo os meus pés do chão, por pouco não tinha ficado sem um pé. E vi, vi-o pela última vexz, rodeado por aquela maldição, que saltou sobre ele e apenas vi sangue salpicar, tapando os olhos.

Novos sonhos surgiriam, novos objectos, esperanças e futuro. Iria esquecer esta carnificina pois era essa a minha vontade. Esquecer para não me apegar ao passado, para não pensar, para viver o futuro e para sorrir.


[Por aqui fica a sua história, que talvez um dia virá a ser retomada, daquela que anjo caído foi, e reerguido se tornou, porque na vida a alegria é que conta e o sorrir de uma doce criança que aquece nossos dias. "As estrelas caiem, o mundo desaba. Mas, misteriosamente não sinto medo,  apenas porque tu estas comigo"]

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